terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Nada melhor para acabar o ano que assistir o documentário “Vacaciones con Fidel”

“Si quiere detectar un turista [en Cuba] es facil: mira hacia arriba, balcones, capiteles. Nosotros miramos abajo, baches, fosas albañales.” Yoani Sanchez

Por supuesto.

Anteontem eu assisti um filme na TV Brasil chamado “Vacaciones con Fidel”. Não é lindjo? Principalmente se levarmos em conta que ele foi exibido em um canal cuja proposta é exibir filmes brasileiros. Esse, apesar do título é argentino.

Trata-se de um documentário feito por um hermano celerado que pegou a mulher e os três filhos e foi passar suas “vacaciones” em Cuba, com o propósito de conhecer aquela espelunca e, pasmem, tentar passar aos filhos, de dois, cinco e nove anos, o “espírito do socialismo”. Em resumo, o cara é um debiloide.

Para começo de conversa, o filme tem o maior cuidado em não mostrar a Cuba que nós estamos habituados a ver. As pouquíssimas cenas de rua são escolhidas a dedo e exibem alguns caixotes pintadinhos em Santiago de Cuba, que eles chamam de casas, muito parecidas com as casas feitas pelo PAC daqui, mas não exibem as ruínas que servem de moradia para 90% dos cubanos.

Idem os carros. Não vi nenhum calhambeque dos anos 50, mas também não vi nenhum que tenha menos de 30 anos de fabricação, a não ser o da doutora Guevara, a filha médica de Che. Diga-se de passagem, o motorista do taxi - ou fosse lá o que fosse aquele veículo - que os levou do aeroporto de Santiago até o lugar onde eles iriam ficar, revelou que ganhava 318 pesos (15 dólares) por mês e que Cuba lhe fornecia o resto necessário para viver, muito embora seu pai tivesse fugido para Miami dez anos antes, sem querer saber de voltar, a não ser para ver a família. O rapaz deve ser do PFC: Parentes Fora de Cuba, que mandam grana.

Na filmagem do hospital onde trabalha a filha do Chemais ou menos limpinho, embora sem o menor sinal de algum equipamento, por mais básico que seja, ela aparece recomendando a um senhor uma dieta de 48 horas comendo apenas arroz e melão, sem prescrever remédio algum, para, ao se despedir, dizer que o encaminharia a um dermatologista. Fiquei morrendo de curiosidade para saber qual é a ziquizira de pele que se cura dessa maneira.

Bom, voltando ao argentino e sua família, não sei se por opção ou por não existirem hotéis, eles se hospedaram em casas de família, ao que tudo indica, licenciadas para fazer esse tipo de coisa, muito embora a resposta de um dos anfitriões ao ser indagado pelo argentino se tinha licença do governo para alugar seus aposentos tenha sido evasiva.

Mas o mais interessante do documentário são os depoimentos desse povo de uma meia dúzia de privilegiados que têm casas espaçosas para alugar - recebem em dólar - e seus amigos. Não houve um que se declarasse socialista ou comunista: todos, acima de tudo, se declararam fidelistas. A gente conhece bem esse tipo de culto, já que passamos pelo getulismo - que até hoje deixou sequelas - e agora vivemos o lulismo - que continua deixando. Nada que se possa comparar com o peronismo, mas, somando, quem sabe?

Uma outra coisa que me chamou atenção e talvez seja o aspecto mais importante sobre a personalidade dos cubanos, foi a total falta de ambição de todos eles. Pode parecer estranho generalizar ao falar em personalidade, mas, em se tratando de Cuba, tudo é possível. A passividade e o conformismo dos cubanos, mesmo dos que se disseram cultos e, de certa forma, exibiram alguma cultura, é impressionante. É uma incrível douração da pílula da miséria por parte de todos, que dão valores exagerados a qualquer coisa que seja exceção ao padrão de escassez extrema, como comer carne de porco uma vez por ano. E ainda brindam em uníssono: viva Cuba libre! Quem sabe seja apenas o drink?...

E o documentário vai chegando ao fim com palavras do argentino em sérias elocubrações e dúvidas sobre se os filhos conseguiram assimilar alguma coisa daquela “maravilha” socialista, para terminar, já na Argentina, documentando a exposição do trabalho escolar do filho mais velho sobre Che Guevara...

Hermanito porteño: entrega el centro de su culo para salvar a los bordes!

2 comentários:

  1. Ainda tocado pelo espírito do ano novo, me fixei na frase do texto: Não houve um que se declarasse socialista ou comunista: todos, acima de tudo, se declararam fidelistas.
    Baseado nisto, quando o coma andante receber o golpe final de Átropos (uma das Moiras) as deusas que controlam a vida e a morte, o fidelismo se finirá.
    Por via de conseqüência, o lulismo também. E o indigitado já está com as barbas (que já se foram) de molho, tanto que usa de todas as suas forças para perenizar o poste como herança...

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  2. Assisti alguns documentários sobre Cuba no YouTube, postei e comentei alguns no falecido Observador Político. Em um deles tem o depoimento de uma mulher: “As únicas coisas boa que temos em Cuba é a Santeria (Candomblé) e as novelas da Globo”. Fiquei surpreso em saber que as novelas da Globo passam em Cuba, mas há algo mais relevante nesse depoimento.

    Retirando as novelas da Globo, sobra apenas aquilo que os escravos que eram mantidos em senzalas tinham, certo? No Coliseu, a parte mais alta (e distante da arena) era reservada aos escravos. Os eventos no Coliseu podem ser considerados equivalentes às novelas da Globo, pelo menos no depoimento da senhora em questão.

    Conclusão: o regime existente em Cuba, nada mais é do que ESCRAVIDÃO.

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