segunda-feira, 24 de novembro de 2014

FHC, no mínimo, foi irresponsável

Há algum tempo, escrevi o seguinte aqui:

“Existem ‘intelectuais’ que hoje posam de coerentes, que, por serem grandes formadores de opinião, foram também os responsáveis por esse lastimável estado de coisas que hoje se encontra o Brasil quando estavam do outro lado. Cito alguns: Gullar, Jabor, Gabeira, Ubaldo, Bicudo e o próprio FHC. É preciso lembrar que estes, que hoje são grandes críticos do PT e seus quadrilheiros, já foram durante muito tempo seus fieis incentivadores. Incluo FHC porque além dele ter sido durante um tempo pré-PT uma espécie de mentor de Lula, nada fez para que o apedeuta não o sucedesse, muito pelo contrário: em plena campanha presidencial de 2002 ele foi à França – então grande parceira comercial do Brasil – tranquilizar Jacques Chirac sobre a possibilidade de o PT assumir o poder.”

Sexta-feira passada, Percival Puggina mandou:

FHC que me perdoe, mas é imperdoável

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso que me perdoe. Malgrado seus muitos e inegáveis méritos, ele tem grande responsabilidade pela expansão e consolidação de seus opositores no poder.

Sim, a nação lhe deve boas iniciativas. Mas ele tem grave responsabilidade pela chegada do PT ao poder. Nada fez para evitar que isso acontecesse. Franqueou ao partido da estrela acesso à alma de parcela significativa do povo brasileiro pela via da mistificação e da mentira. Enquanto no governo, Fernando Henrique Cardoso prestava atenção e levava em grande conta o que Lula dizia. Havia algo de petista, um pigarro socialista, na garganta e na alma do acadêmico que governou o Brasil durante oito anos. Lula, por seu turno, uma vez eleito, teve o mérito de manter o que havia de melhor nas políticas de seu antecessor, lixando-se para o seu próprio discurso e para seu partido. Está aí o principal motivo do maior sucesso político do governo de Lula sobre o de FHC. Como consequência, o PT cresceu mais com FHC do que com Lula. Com Lula, o PT ganhou o controle da máquina. Com FHC o controle de corações e mentes.

O ex-presidente que me perdoe, mas isso é imperdoável. Visivelmente, ofereceu-se ele em holocausto para a vitória do PT. Tirou o casaco, a gravata e abriu a camisa para o assassinato de sua reputação. Permitiu que o importante trabalho social iniciado por sua mulher, Ruth Cardoso, fosse menosprezado e, depois, usurpado por seus adversários. Omitiu-se nas eleições subsequentes ou, por tudo isso, foi alijado delas por seus correligionários Serra e Alckmin. Retornou agora, tarde demais, idoso demais, irrelevante demais, na campanha de Aécio Neves.

Não agiu contra o assassinato da própria reputação. Não mostrou que o PT no governo, com todos os meios de investigação disponíveis, não provou uma única das acusações que lhe fez ao longo de oito anos. Não exibiu o consagrador estado de probidade administrativa representado por esse silêncio. Não se valeu dele para mostrar a criminosa capacidade de difamar e injuriar que caracteriza o petismo. Com tudo isso, Fernando Henrique descumpriu um dever moral perante o qual não poderia se omitir. Não é próprio dos homens de bem tolerar o que ele tolerou. Por agir como agiu, tornou possível o escárnio dos escárnios, que se manifesta quando os petistas, confrontados com a indizível tragédia moral em que se meteram, permitem-se afirmar que não são piores do que os demais. E encontram quem neles creia!

Ao abrir caminho, como de fato abriu, para o crescimento do PT e sua ascensão ao poder, Fernando Henrique fez mal ao Brasil. Desde que li o Manifesto de fundação do PT em 1980, eu sabia o que era e o que viria a ser esse partido. Com muito maior razão ele, homem inteligente e político experiente, tinha que saber o que iria acontecer quando o país caísse nas mãos em que veio a cair.

13 comentários:

  1. Talvez, talvez o FHC não conhecia o povo que habita o país. Aqueles que ele conhece possivelmente não representam a "badalhoca" do povo.
    Julgou pela "zona envolvente" e deu no deu. Foi mesmo básico em pensar que os calhordas nunca chegariam onde chegaram, errou e não pode consertar o erro e nem nunca poderá faze-lo, poderia sim retratar-se perante aqueles que não fazem parte da bandalho do PT.
    Pode não ser ético, mas um bom político retrata-se quando é necessário.

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    1. Um sociólogo renomado não pode se dar ao luxo de não conhecer seu povo.

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    2. Pois, mas parece que não conhecia, pois se conhecesse saberia que um sujeito como lula faria um imenso sucesso, os que fundaram a porcaria do PT conheciam o povo badalhoca melhor que o sociólogo, é ou não é?
      Lancaram o garoto propaganda com hábitos, língua e cultura que agradou o publico, só faltou o lula jogar bacalhau e pacotes de café quando dos palanques.
      Caiu na graca e no colo da massa, o sociólogo dormiu e quando acordou a tragédia já estava instalada.
      Certamente há outras coisas que não sabemos, não sabemos os arranjos e compromissos angelicais entre eles.

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    3. O problema, Theresa, é que esse pessoal de esquerda, como FHC, finge que adora pobre e miséria, e acha que um líder do povo tem que ser compatível com esses parâmetros. Isso, em tese, já que na prática FHC fez um governo em que todos se beneficiaram.

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    4. Nada errado com um socialista pouco afetado ou precisando de GPS, que los hay, los hay.

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  2. (argento) ... convém não esquecer:

    “Se você contar e sustentar uma Mentira (ou Meia Verdade) durante o tempo suficiente (e repeti-la, i-la, i-la, i-la, ad infinitum), as pessoas vão acreditar. A Mentira deve ser mantida (sustentada) nos momentos em que o Estado visa “proteger (esconder)”, das pessoas, conseqüências políticas, econômicas ou militares. Torna-se, assim, de vital importância, para o Estado*, usar todos os seus poderes para reprimir a dissidência, ou os dissidentes.

    - Porque a Verdade é o Inimigo mortal da Mentira e, por extensão, a Verdade é o Maior Inimigo do Estado*.”

    [* Aplica-se tanto a Estado, quanto a Governo(s) de Estado, estabelecido ou postulante(s) - Goebbels aplicou e, ensinou, o que Freud postulou *]

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    1. (argento) ... (opinião particular, sujeita a controvérsia). FHC é exemplo típico de Idiotia Induzida à Propaganda. Dirigida ás Massas - "o Indivíduo segue o Coletivo"

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    2. Argento, a única coisa que FHC não fez foi propaganda. Tivesse feito, o PT não estaria aí.

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    3. (argento) ... exato, Froes, FHC não fez propaganda; já Lulinha "paz e amor" utilizou-a melhor ... e deu no que deu - são as tais Consequências, "os depois" não Atentados ... a Sociedade acostumada à Condução deixa de raciocinar e, pra piorar, há o Voto Obrigatório ...

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    4. (argento) ... as "flexibilizações", os Estatutos. ..., as Dilmas, os "volta Lula". a lista é grande pra dedeu.

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  3. (argento) ... opinião é como bunda, todo mundo tem e, já que opinei sobre FHC ... , Lula, embora sujeito à mesma Propaganda, portanto Idiota Induzido, soube melhor utilizar-se dela, Aproveitdor Aventureiro ()não necessariamente nesta ordem)

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  4. Magu disse:
    Percival deve ter escrito de propósito, no último parágrafo: No nosso tempo de jovem (ele tem apenas 1 ano a mais que eu), era comum o vulgo dizer que fulano "fez mal" a uma moça, quando ela, solteira, aparecia ligeiramente grávida.

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