terça-feira, 2 de agosto de 2016

Maduro declara que comanda o Mercosul e Serra não reconhece. Por que o Brasil não larga essa merda?

Estadão

Ao se declarar no comando da presidência do Mercosul, o governo de Nicolás Maduro abriu um dos maiores impasses da história do bloco. Presidente até a semana passada, o Uruguai deixou o cargo vago na sexta-feira – uma decisão contestada em carta enviada pela diplomacia brasileira aos governos de outros países-membros por “gerar incerteza”.

No fim de semana, a chancelaria da Venezuela anunciou que o país estava assumindo a presidência e dividiu de vez o bloco: o Uruguai acatou a manifestação venezuelana, mas Brasil, Paraguai e Argentina anunciaram que a desconheciam.

A posição brasileira foi mais enfática do que nas declarações anteriores do Itamaraty. Em carta enviada aos chanceleres de Uruguai, Paraguai e Argentina, o ministro das Relações Exteriores, José Serra, deixa claro que o Brasil não reconhece a Venezuela como presidente do Mercosul.

“O governo brasileiro entende que se encontra vaga a Presidência Pro Tempore do Mercosul, uma vez que não houve decisão consensual a respeito de seu exercício no período semestral subsequente”, diz. Ele afirma também que aquele país não cumpriu “disposições essenciais” à sua adesão ao bloco econômico.

A decisão unilateral uruguaia de sexta-feira de deixar o posto vago foi qualificado por Serra na carta de “sem precedente” e um ato que “gera incerteza”.

O rodízio na presidência do Mercosul deveria ter sido aprovado por consenso entre os sócios, lembra o chanceler brasileiro.

O Brasil defendia que o Uruguai esperasse até meados de agosto para decidir se a presidência seria ou não transferida para a Venezuela. Serra e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso foram a Montevidéu no dia 6 para apresentar essa proposta ao presidente uruguaio, Tabaré Vázquez.

Questionado em uma reunião de ministros na costa uruguaia, o chanceler uruguaio, Rodolfo Nin Novoa, disse que considerava a Venezuela presidente do bloco. A presidência do Mercosul é exercida por mandato de seis meses, obedecendo ordem alfabética dos países-membros.

Paraguai, Argentina e Brasil, por ordem de veemência, colocavam-se contra o fato dos venezuelanos presidirem o bloco em razão da situação institucional e econômica que não permitiria ao país caribenho comandar o Mercosul. Os dois primeiros também citavam adequações a normas e tratados que os venezuelanos não cumpriram.

O chanceler paraguaio, Eladio Eloizaga, foi o primeiro a denunciar uma “presidência de fato”, durante o fim de semana, após a proclamação venezuelana. Ontem, em Assunção, ele afirmou em tom irônico que os uruguaios “deixaram a bola quicando” ao abandonar a função, e os três países contrários à posse de Caracas buscam uma solução, formando uma espécie de presidência conjunta.


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